quarta-feira, 30 de maio de 2012

Instagram, o aplicativo de 1 bilhão de dólares


São Paulo - A página do brasileiro Michel (Mike) Krieger no Facebook foi inundada com mensagens de parabéns no dia 9 de abril. O motivo não era o aniversário de Krieger, que completou 26 anos no início de março, mas, sim, uma notícia envolvendo o Instagram, popular aplicativo de fotos para smartphones criado em 2010 por ele e pelo americano Kevin Systrom, seu colega na Universidade Stanford.
O Facebook, maior rede social do mundo, havia comprado o Instagram por 1 bilhão de dólares. Com a transação, o patrimônio de Systrom ganhou 400 milhões de dólares e o de Krieger, um paulistano que foi estudar nos Estados Unidos aos 17 anos, cresceu 100 milhões.
A notícia foi dada pelo próprio Mark Zuckerberg, fundador do Facebook: “Estou feliz de anunciar que entramos em acordo para adquirir o Instagram e seu talentoso time, que vai se juntar ao Facebook”. Entre os amigos empolgados que deixavam recados com “parabéns” e “inacreditável”, uma mensagem se destacava no mural de Krieger: “Mike começou uma amizade com Mark Zuckerberg”.
O que o criador do Facebook quer são os dois jovens empreendedores que criaram, num espaço de dois anos, um negócio que apresenta uma estrutura e números extraordinários. O Instagram tem apenas 13 funcionários, que ocupam um andar de um prédio comercial na cidade de São Francisco, na Califórnia.
Ele surgiu em outubro de 2010 como um aplicativo para o iPhone, smartphone da Apple. A grande ideia de Krieger e Systrom foi criar um programa que faz com que qualquer pessoa, tendo ou não noção de fotografia, consiga produzir um “ensaio artístico”. O aplicativo permite aplicar diferentes tipos de filtro a fotos tiradas no celular.
São eles que dão um visual retrô, mudam a temperatura das cores ou simulam diferentes níveis de exposição. O programa atraiu mais de 30 milhões de usuários em menos de dois anos e rendeu ao Instagram o título de “aplicativo do ano em 2011”, oferecido pela Apple.
O número deve dar outro salto nos próximos meses com a recém-lançada versão do Instagram para o sistema Android, que está presente em 60% dos smartphones vendidos atualmente. “O que explica o sucesso imediato do Instagram é sua simplicidade”, diz Melissa Parrish, analista da empresa de pesquisa Forrester.
De tempos em tempos, os blogs de tecnologia publicavam boatos sobre o interesse do Google, do Twitter e do próprio Facebook em comprar o Instagram. Essa disputa entre três grandes empresas de internet é uma das possíveis explicações para o 1 bilhão de dólares pago pelo Facebook, o dobro do valor de mercado estimado para o Instagram até o momento da compra.
Na tarde do dia 9, um comentário postado por um perfil de humor no Twitter fez sucesso: “Que burro este Zuckerberg. Pagou 1 bilhão de dólares num aplicativo que baixei de graça ontem no iPhone”. A piada remete a outra dúvida frequente em relação a empresas de sucesso na internet.
Como o Instagram, que é de graça e não tem nenhuma publicidade, dá lucro? A realidade é que o Instagram não dá dinheiro. Pelo contrário, gastou boa parte dos 47 milhões de dólares de investimentos que recebeu com uma infraestrutura de servidores capazes de suportar as fotos postadas pelos 30 milhões de usuários.
Em certo sentido, Zuckerberg parece estar seguindo os passos que Larry Page e Sergey Brin deram em 2006, quando o Google comprou o YouTube por 1,6 bilhão de dólares. O site de vídeos passou anos sem dar um centavo de lucro para a empresa, mas manteve o Google com mais de 80% de participação na audiên­cia de sites de vídeos online.
O último movimento de Zuckerberg tem a ver com a importância cada vez maior dos smartphones para seu negócio — hoje, 51% dos 850 milhões de usuários do Facebook acessam suas páginas pelo telefone. A rede social de Zuckerberg também se tornou o maior serviço de álbum de fotos virtual, superando os mais tradicionais, como o Flickr, do Yahoo!.
Embora o Facebook venha estudando um jeito de ganhar dinheiro com isso, esse é um tema tratado com cuidado, já que mexe com a privacidade dos usuários. De qualquer forma, com o Instagram, o Facebook recebe uma base de milhões de pessoas que não se importam em compartilhar fotos, descrevem seus hábitos de consumo e informam sua localização.
Mais um brazuca
Não é mera coincidência que o anúncio da compra do Instagram tenha sido feito a poucas semanas da abertura de capital do Facebook na Bolsa de Valores de Nova York. “É uma forma de mostrar vigor financeiro antes da abertura de capital”, diz Fernando Belfort, analista da empresa de pesquisas Frost&Sullivan.
“Nenhuma outra rede social foi vendida por um preço tão alto.” Pelo menos por enquanto, Zuckerberg parece não querer mexer de forma drástica na empresa que comprou. “É importante ficar claro que o Instagram não vai acabar”, escreveu Kevin Systrom no blog do Instagram.
O Instagram é a primeira empresa que o Facebook compra que será mantida como um serviço independente. Antes, o Facebook havia feito outras sete aquisições — todas incorporadas como recursos da rede social. Eduardo Saverin, o  brasileiro cofundador do Facebook, foi um dos que parabenizaram ambos os lados pelo negócio.
“Impressionante!”, escreveu em seu perfil, ao ressaltar o fato de a empresa ter apenas 13 funcionários. Foi uma forma de dar boas-vindas a Mike Krieger, segundo brasileiro a se tornar uma celebridade do Vale do Silício.

*Com colaboração de Luiza Dalmazo e Guilherme Manechini.

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